segunda-feira, 30 de abril de 2012

Palavras que ferem, o  corte é profundo.
 
Os espectadores diziam, “Desça da cruz se é o Filho de Deus!” Os líderes religiosos falavam: “Ele salvou outros, mas não pode salvar-se a si mesmo”. E os soldados: "Se é realmente o rei dos judeus, salve-se a si mesmo”.Palavras amargas, cheias de sarcasmo. Odiosas. Irreverentes. Não bastava que Ele estivesse sendo crucificado? Não bastava que fosse envergonhado como um criminoso? Os pregos eram insuficientes? A coroa de espinhos macia demais? Os açoites muito leves? Para alguns, a idéia era essa.Pedro, um escritor que geralmente não era dado a usar muitos verbos descritivos diz que os passantes “atiravam” insultos ao Cristo crucificado. Eles “atiravam” pedras verbais. Tinham toda intenção de ferir e machucar. “Quebramos o corpo, vamos quebrar agora o espírito!” Esticaram os arcos com a auto retidão e lançaram flechas afiadas e cheias de puro veneno.De todas as cenas em volta da cruz é esta que me provoca mais ira. Que tipo de pessoas, pergunto a mim mesmo, iria zombar de um homem agonizante? Quem seria tão vil a ponto de derramar o sal do escárnio sobre feridas abertas? Quem tão baixo e perverso que desdenhasse alguém atormentado pelo sofrimento? Quem riria do indivíduo sentado na cadeira elétrica? Ou quem apontaria o dedo e zombaria do criminoso de cujo pescoço pende o laço do carrasco?Pode estar certo que Satanás e seus demônios foram a causa de tal perversidade.O criminoso na cruz número dois atira então o seu golpe: “Você não é o Cristo? Salve então a si mesmo e a nós!”As palavras atiradas naquele dia tinham como objetivo causar dor. E não há nada mais penoso do que esse tipo de palavras. Essa a razão de Tiago ter chamado a língua de fogo consumidor. As queimaduras que provoca são tão destrutivas e desastrosas como as de um ferro de soldar.Não estou falando nada de novo. Você sem dúvida já teve a sua parte de palavras que ferem. Já sentiu a ferroada de uma zombaria que acertou o alvo. Talvez esteja ainda sentindo dor. Alguém que ama e respeita o joga no chão com um lapso verbal. E você fica ali, ferido e sangrando. Talvez as palavras tivessem a intenção de feri-lo, talvez não. Mas isso não importa. A ferida é profunda. Os danos são internos. Coração partido, orgulho machucado, sentimentos ofendidos.Ou, quem sabe, o seu ferimento é antigo. Embora a flecha tenha sido extraída há muito tempo, a ponta continua alojada... oculta sob a pele. O velho sofrimento ressurge sem avisar e decididamente, lembrando você das palavras duras que ainda não conseguiu perdoar.Se você sofreu ou está sofrendo por causa das palavras de alguém, ficará contente em saber que existe um bálsamo para a sua ferida. Medite sobre estas palavras de 1 Pedro 2:23: “Ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltratado não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente”.Viu o que Jesus não fez? Ele não revidou. Ele não se vingou. Não disse, “Vou pegá-lo!”, “Venha aqui e diga isso na minha cara!”, “Espere até depois da ressurreição, meu amigo!” - Essas frases não saíram absolutamente dos lábios de Cristo.Você viu o que Jesus fez? Ele se entregou “àquele que julga retamente”. Ou, em palavras mais simples, deixou o julgamento para Deus. Não tomou a si a tarefa de buscar vingança. Não exigiu desculpas. Não prometeu prêmios aos caçadores, nem enviou pessoa alguma em perseguição. Pelo contrário, surpreendentemente, os defendeu.“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.O diálogo naquela manhã de sexta-feira foi sem dúvida amargo. As pedras verbais tinham a intenção de ferir. Como Jesus, com o corpo cheio de dor, os olhos cegos pelo seu próprio sangue, e os pulmões lutando para respirar, podia ainda defender alguns rufiões desalmados, está acima da minha compreensão.Jamais, jamais eu vi um amor assim. Se alguém merecia vingar-se, esse era Jesus. Mas não fez isso. Pelo contrário, morreu por eles. Como pôde agir assim? Não sei. Mas sei que de repente meus ferimentos deixam de doer. Minhas queixas e ressentimentos ficam de súbito parecendo infantis.Algumas vezes me pergunto se não vemos o amor de Cristo tanto nas pessoas que tolerou como na dor que sofreu. Graça sublime.  Pastor Américo da Silva - Presidente Comunidade Evangélica Yeshua.